Maínha faz aniversário hoje. É pisciana. Ela vive de cuidar das plantas e deve estar, nesse momento, no fogão de lenha cozinhando ou servindo almoço para os netos. Parabéns, Mainha! Lembram do post Palmolive para cabelos oleosos? Exato. Lembram de minhas dores de barriga? Exato. Façam suas homenagens!!!
Não de mim, mas do logos tendo ouvido é sábio homologar tudo é um. HIPÓLITO, Refutação, IX, 9.
28 de fevereiro de 2007
Conto de Fadas - Parte I

26 de fevereiro de 2007
Filosofia Anônima

Deusa de Assombrosas Tetas
Para Máximus Mansur
Neste domingo, pós carnaval, às cinco e meia da manhã, o sol ainda não havia
nascido, desci até a garagem. Peguei os CDs da Patrícia Costa. Saí rumo à
Rodoviária de Salvador. Thereza chegaria, pelas previsões, ali pelas seis da
manhã. Engano, chegou às sete e trinta. Eu tenho muito que fazer no trabalho e
muito que ler na faculdade, mas achei pertinente, e oportuno, esquecer tudo que
tinha de obrigações e dedicar o domingo a ela. Foi o que fiz. Agora, são 20:30 e
preciso contar nossa turnê.
Foram três paradas. Antes, porém, um comentário um tanto quanto “piegas”. Quando voltávamos da Rodoviária e antes da turnê abaixo, dirigindo pela Orla, senti uma espécie de satisfação. A cidade voltara ao normal. Acabara o carnaval e o domingo era meu novamente. Poucos dias antes, durante o carnaval, abateu-me (eis aqui a pieguice) certo sentimento de... ciúme. Gente do mundo inteiro na minha segunda cidade, usando-a e abusando-a. Sei lá. É como se ela se prostituísse, se vendesse. Vamos ao que interessa.

Segunda parada. Na outra praia, outro músico, sozinho, cantava. Thereza gostou. Sentamos e fomos ouvir. Sabe aqueles sujeitos que malham, mas que o fruto do esforço só se verifica da cintura para cima? Era o caso do bendito. Braços enormes e pernas minúsculas, e finas. Parece elefantíase. A voz rouca era resultado dos esforços no carnaval. Na orelha, um brinco maior e mais pesado que os grilhões usados por meus antepassados. Pedais espalhados pelo chão e uma pasta com letras de músicas. Ficamos por ali, ouvimos algumas músicas e saímos. Somos muito volúveis pelo visto. Levantamo-nos, seguidos pelo garçom que insistia em que eu tomasse a bendita da Schin gelada. Não tomei, embora o calor da praia fosse argumento suficiente para três delas. Pegamos o carro e fomos para o Pelourinho.

Tudo bem, chega de Caetano. Enquanto comíamos a feijoada, falávamos sobre homossexualismo. O que eu disse para ela, digo para vocês também. Nutro uma simpatia muito grande por eles (embora suponha que a recíproca não seja verdadeira). Eles fundem em si as qualidades que os homens deviam ter, mas não têm, por machismo ou por idiotice, e as qualidades que muitas mulheres têm, mas que, neles, ganham contornos de profissionalismo. Fui claro? Não, eu sei.
Aliás (só um parêntesis, volto ao tema central em 10 linhas), temos uma frustração na família. Todos imaginamos, inclusive paínho, que Fábio, o caçula, apresentava alguns sintomas que denunciavam a presença de um fato novo. Quando Fabinho nasceu, Márcia e Marlúcia já eram grandinhas. E, diferentemente de nós outros, o infame nascera com cabelos cacheados e cor da pele que estava mais para paínho (de origem portuguesa) que para maínha (afro-descendente). Virara atração o bendito. Nesse contexto, todas as mulheres da rua adotaram a criança e o mimoseavam em demasia. Por essa época, eu e Petrônio estávamos já com nossos 7, 8 anos, e trabalhávamos feito gente grande. Só quem não trabalhava mesmo eram Paulinho, Maurício e Fábio. Ide perguntar aos mesmos e eles vos hão de confirmar. Pois a rua inteira começou a comentar, à boca pequena, que o filho caçula de Dona Jovita... Bem, depois eu falo sobre isso. O certo é que Fábio contrariou nossas expectativas. Lamentavelmente. Seria legal ter um irmão que fundisse as qualidades que citei acima.


24 de fevereiro de 2007
"... E o Vento Levou"
Para Petrônio
21 de fevereiro de 2007
Respirando Ameaças

Quando Saulo de Tarso ia pelo caminho de Damasco, “um resplendor de luz do céu o fez cegar.” E uma voz, vinda do céu, indagou: “Saulo, Saulo, porque me persegues? Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões”. Era Jesus. Daí em diante, como todos sabem, duas mudanças decisivas aconteceram. Uma, Saulo tornou-se defensor dos seguidores do Nazareno, transformando-se no principal nome do pensamento cristão. Outra, mudou de nome. Deixou de ser chamado de Saulo para ser Paulo, que quer dizer: pequeno, humilde. O fato está descrito com mais detalhes lá em Atos dos Apóstolos, 9. Fatos miraculosos como este permeiam a Bíblia. Alguns mais ou menos conhecidos. A conversão de Paulo (ou Saulo) é talvez o mais conhecido, ou pelo menos o mais importante, se considerarmos que, na ausência de Paulo, o florescimento do Cristianismo seria, por assim dizer, pífio. Um detalhe interessante, que remete a uma licença poética sacra, está logo no primeiro versículo: “E Saulo, respirando ainda ameaças, e mortes contra os discípulos do Senhor...”. “Respirando ameaças...”. Sempre achei rica tal imagem. Outra construção muito erudita: “Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões!”. Claro que essas construções estão presentes na tradução do João Ferreira de Almeida. Outras traduções trarão outras formas de expressão. Pois em verdade, em verdade vos digo: eu e Paulo temos três coisas em comum. Também fiquei cego por conta de um resplendor de luz, também mudei de nome, também mudei o rumo de minha vida. Há, é evidente, algumas diferenças entre nossas histórias, mas que ambos fomos abatidos por algo miraculoso, isso fomos. Eis o fato. Eu, Cláudio, estava no Caminho do Cedros – restaurante árabe de Cuiabá – quando, ao meu lado, no banco de passageiro, uma luz resplandecente com forma humana disse-me: “Encoste o carro”. Não, não era nenhum guarda de trânsito fantasmagórico. Encostei o carro. Eram exatamente 23:27 horas. Eu estava trêmulo, e não conseguia fugir, embora pudesse. A luz, por um passe de mágica, abriu o teto do carro e, por ele, me transportou para fora do veículo, colocando-me sobre um cavalo alado alvo como os lençóis do Hotel Tropical (Juazeiro-BA). Montando no cavalo, eis que sobrevoei toda a cidade de Cuiabá, afastando-me gradativamente da terra. Agarrei-me às crinas do Cavalo, cujo nome era Alfredo, e continuei afastando-me da terra que, em alguns minutos, tinha as dimensões de uma bola de futebol. Alfredo não tinha pressa. Suas asas batiam vagarosa, suave e levemente. Mas, não sei como, íamos numa velocidade estonteante. Em segundos, astros de todas as espécies e luminosidades iam ficando para trás. Formações celestiais eram atravessadas em milésimos de segundo. Até que chegamos num ponto do universo onde um astro gigantesco ocupava toda uma região. Sei que era colossal, mas não há medida com que possa explicar seu tamanho. Sei dizer que todos os astros gigantes pelos quais passamos eram poeira cósmica próximos a este colosso. Assombro. Medo. Alfredo parara e planava, como que para permitir-me contemplar o colosso. Foi quando olhei para trás e vi meus livros no banco traseiro do carro. Voltando-me, estava novamente no meu carro. Olhei para o relógio: 23:28. A viagem durara menos de 60 segundos. Desaparecera Alfredo. Voltei à terra. Se é que dela saí. Não fui para o Cedros. Embora minha fome pedisse uma esfirra de frango. Estava ainda sob o efeito da impressionante, inesquecível, inacreditável viagem. Na transversal, Avenida Miguel Sutil, há um supermercado 24 horas. Entrei e fui à cata de um tablete de chocolate meio amargo da Nestlé. Voltei para casa. Duas coisas aconteceram comigo após esse ocorrido. Uma, mudei de nome. Passei a chamar-me Krháudyo. A outra, só a história poderá revelar.
12 de fevereiro de 2007
Ligeiramente Apertado
Para Cinthya (data venia)

5 de fevereiro de 2007
O Cabo das Tormentas

4 de fevereiro de 2007
Se Houver Amanhã
Lá em casa, há quem diga que eu nasci com a bunda pra lua. Nunca vi muita razão nisso, mas ontem pude comprovar isso claramente. Antes, contudo, preciso fazer um comentário sobre coincidências (ou sincronia, se vos apetece). Quando eu era muito garoto, e estudava música, deparei-me, num dos conceitos de harmonia, com a palavra “simultâneo”. Achei linda a palavra. Simultâneo. O texto era: “Harmonia é a execução de várias notas simultaneamente”. Exemplo: o piano. No piano, a gente executa várias notas ao mesmo tempo. O violão também é um instrumento harmônico. Já o saxofone e o clarinete e a flauta são instrumentos melódicos, já que suas notas são executadas uma após a outra. Ou seja, a harmonia está para a poligamia, assim como a melodia está para a monogamia. Mas isso não vem ao caso. O certo é que, de uma hora pra outra, a palavra simultâneo começou a surgir em tudo quanto é lugar. No colégio, na TV, nos livros, simultaneamente. Pois bem, voltemos às comprovações de que, realmente, nasci com a bunda pra lua e de que existe uma sincronia maluca nas coisas todas. Ontem, como todos sabem, foram comemorados, em Salvador, os festejos de Yemanjá. Um vucu-vucu sem fim em toda a orla. Eu, que não sou dado a festas e vivo no recôndito do meu lar, na clausura do meu eu, na intimidade de minha individualidade, no aconchego do meu claudianismo, na penumbra de minha clausura, fui para uma praia menos movimentada. Longe, muito longe do Rio Vermelho. Perto, muito perto de Piatã. Dispo-me sem vergonha, já que perdi boa parcela da gordura que obtive nos últimos dois anos. Sento-me na areia da praia para, antes de entrar na água, meditar sobre as razões da existência. Aliás, faz uns trinta anos que dedico de cinco a dez minutos a meditar sobre as razões da existência. Em vão, naturalmente. Mas, que são cinco ou dez minutos para quem tem bem mais de mil minutos por dia? Vocês implicam com tudo, hein? Deixa eu meditar, ora essa! Quando já estava ali pelos dois minutos de meditação, meu olho esquerdo, seguido do direito, percebeu, deitada na areia, uma garota que, salvo melhor visão, era a coisa mais linda que o Criador, com toda a sua habilidade estética, criara no mundo. Negra. Era uma garota negra e tomava banho de sol sobre uma canga verde musgo. Linda. A pele, ao sol, brilhava intensamente, com o auxilio luxuoso de um bronzeador. E, mais intensamente, brilhava um piercing no seu, oh!, seu lindo afro-umbigo. Deixo por vossa conta imaginar tudo o mais. Meu olho esquerdo, seguido do meu direito, também percebeu que ela tinha, ao seu lado, um livro. Era “Se houver Amanhã”, do Sidney Sheldon. Eis a coincidência de que falava. Um dia antes, li numa publicação que o mesmo havia morrido. Agora, ao meu lado, uma garota fenomenal estava ali, na areia da praia, lendo uma de suas obras. Que coisa, hein?! Pois é. Eis que, lembrando-me de minha recente solteirice, achei conveniente ensaiar uns passos rumo a um novo grande amor. Interrompida a reflexão acerca das razões da existência, comecei a elaborar uma estratégica de abordagem eficaz para uma aproximação. Nessas horas, é preciso todo um cuidado. Qualquer palavra fora do lugar e babau. Depois de um minuto e dezessete segundos de reflexão, cheguei à melhor forma de abordar à Deusa de Ébano. Eu e praticamente metade da humanidade já lemos Se Houver Amanhã. Que faria, pois?! Bem, ela havia marcado o livro. Um terço da história já tinha sido lido. Foi o bastante. Lembrei-me da história e deduzi em que trecho da mesma ela estava. Pronto. Fui até ela, tímido como sempre fui, e: "Olá, tudo bem?" Ela não respondeu de imediato. "Tudo". Respondeu, secamente e com um “não prévio” esboçado no semblante. Eu já previa que o bendito do olá, tudo bem não teria futuro nenhum. Mas a segunda frase não podia ser dita a queima-roupa. Ei-la: "Vi que você está lendo um livro que marcou minha infância". Sim, eu pus uma pequena, mísera dose de exagero; sim, pesei um pouco a mão; mas o livro teve lá sua importância, ora essa!. Vocês também são muito exigentes! Só que a frase era afirmativa, não necessitando de resposta, evidentemente. Fiz, então, a pergunta: "Você já chegou naquela parte assim, assim?" Pronto, foi o suficiente para ela abrir um sorriso ímpar e ultra odontológico. "Já!", disse ela, com um “sim profético” esboçado no semblante e no corpo. "Sério?!" Daí em diante eu estava em casa. Em meio aos comentários literários, entremeava perguntas dirigidas a fins muito específicos, se é que me entendem. Pois bem, depois de muita conversa: "Qual seu nome?" Perguntei. "Daphene", foi a resposta. Foi nessa hora que quase tive um troço. A última Daphene que conheci, e com quem nada tive, me causou um prejuízo tão gigantesco, tão monumental que conhecer outra ou é obra do senhor das trevas ou uma tremenda coincidência. Depois de me recompor do efeito do nome da Deusa de Ébano, e considerando que o calor estava soteropolitano, ela – e não eu, como alguns maldosos poderão supor – convidou-me a que fôssemos tomar banho de mar. A maré estava baixa, mas eu estava em alta. Tudo o que aconteceu depois esteve recheado de muitas coincidências mas, principalmente, de muita, muita sincronia e muita, muita simultaneidade, se é que me entendem. Isso me faz aceitar a abundante afirmação de que, de fato, nasci com a bunda pra lua, hehe.
Benedictus

2 de fevereiro de 2007
Palmolive - para cabelos oleosos
Vidas, tive muitas. Desde que tudo começou, tive mais vidas que Raul Seixas. Lamento não me lembrar, com detalhes, de tudo que se passou nestas vidas todas. Quisera ter a memória de Márcia. Márcia se lembra de tudo. Nesta vida presente, diversas vezes fiquei à beira do abismo, mas não caí. Mas, se tivesse caído, e sucumbido, não seria problema. Ouso dizer que já vivi o bastante. O que vier, será lucro. Já foi lucro suficiente vir à tona, considerando que maínha poderia, junto com paínho, ter deliberado que, tendo nascido Petrônio, bastava. Se assim fosse, uma série de pessoas, que hoje vêem seus álbuns de fotografias, não me teria presente neles. Se assim fosse, minha mãe não teria perdido tanto sono com minhas cólicas e diarréias (perdão pelo detalhe sórdido). Se assim fosse, esse blog não existiria e vocês estariam ocupados com 10 pessoas no MSN ou mandando recados no orkut. Mas assim não foi. Nasci e, querendo ou não, uma infinidade de pessoas tem nas suas agendas diversos números dos diversos aparelhos celulares que já tive. Querendo ou não, todo dia 13 de janeiro, muitos (e muitas, é bom que se diga) acordam, dizendo: “Hoje é aniversário daquele sujeito”. Querendo ou não, nos mesmos álbuns, lá estou eu, histórico, pétreo, imexível. O certo é que nasci e quase morro aos dois anos, conforme já disse nas minhas exortações sanitárias (vide post anterior). A existência, para que eu não achasse que tudo era festa do outro lado da barriga de maínha, vive me presenteando com algumas dores, para que eu não seja soberbo, para que eu não pense que tudo são glórias, para que eu agradeça. São muitas as dores desta vida. As dores de cólica são as piores. “Esse menino não pode comer comida pesada”. Todo mundo lá em casa come como se o mundo acabasse no dia seguinte. Só eu, o eterno enfermo, estava limitado às comidas leves. Qualquer excesso, e lá me vinham os infernais desarranjos. E as infernais cólicas. E as eternas visitas ao banheiro. E os amarguíssimos remédios amargos que mainha fazia e me obrigava a beber, impulsionando o copo ao som de “gut, gut, gut”, como se, simulando o barulho do remédio descendo garganta abaixo, desse-me ânimo e coragem para encarar meio copo de amargor. No armário do banheiro, um arsenal de outros xaropes, um exército de amargores. Pois bem. Numa daquelas noites de cólicas infames, acordo mainha, que me leva ao banheiro, desesperada com meus gemidos (dores de um parto impossível). Exasperada, abre o armário do banheiro, tira de lá algo que ela supunha ser um dos meus remédios. Enche uma colher e injeta na minha boca, gut. Enche outra colher, gut, gut. Enche outra, gut, gut, gut. E outra, gut, gut, gut, gut. Mas, considerando um borbulhar esquisito nos cantos de minha boca, e considerando minha cara de dor associada a um esgar de nojo, resolve ligar a luz. Percebe que o que tinha na mão era um recipiente de shampoo Palmolive. “Deus, matei meu filho! Matei meu filho!!”. Daí, houve todo um processo operacional para que eu expelisse – agora com outra sonoridade – tudo aquilo que entrara ao som de gut, gut.Para Dora (ela sabe o motivo)
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