Não de mim, mas do logos tendo ouvido é sábio homologar tudo é um. HIPÓLITO, Refutação, IX, 9.
8 de novembro de 2007
“Filósofo é tudo doido!”
Não tenho dado um bom testemunho por onde tenho andado. Prova disso é esta frase que ouvi no último sábado. Muito frequentemente, vou ao Sebo Juvenil, ali na Estação da Lapa. Com o tempo, acabei por fazer amizade com as garotas (Vânia e Cláudia). E, nessa de ficar vasculhando, também falo, claro. E como não tenho nenhum compromisso com a coerência – e também pra descontrair o ambiente – acabo falando uma série de coisas destituídas de qualquer nexo. Uma blasfêmia aqui, uma heresia mais adiante, uma infâmia acolá. As meninas vão ouvindo. Volta e meia, perguntando: “Como é, Pai?”. Fustigado, me empolgo e ai é que eu começo a falar com muito maior eloqüência. Cito pensamentos profundos que ninguém nesse mundo leu em outra parte, faço suposições sobre a existência, teatralizo o armagedon. Pois bem. Numa dessas manhãs em que prefiro silenciar e tão somente folhear um ou outro livro (sim, muito ácaro), eis que ouço de Vânia – que não se dirigia a ninguém, apenas pensava em voz alta –: “Rapaz, filósofo é tudo doido!”. Virei-me para atentar para ela – já que, a rigor, era por minha causa que a frase fora proferida. Ao que ela disse: “É isso mesmo, Pai. Eu tava pensando naquele papo seu sobre esse tal de Dionísio. Sei não, viu?!.” Não sei exatamente o que foi que disso sobre Dionísio mas, pelo fruto, se deduz a árvore. Preferi não retrucar a Vânia. Tudo que eu dissesse seria usado contra mim. Calei e voltei aos ácaros. E comecei a dizer para mim mesmo que a humanidade é que era louca e que eu é que estava certo. Comecei a pensar sobre todos os grandes nomes que eram tidos como loucos e, no fundo, eram gênios. Comecei a pensar que, no fundo, onde ela via loucura, era lirismo; onde ela via loucura, era poesia; onde ela via loucura, eram malabarismos mentais de um pretenso halterofilista cerebral; onde ela via loucura, era uma nova proposta existencial; onde ela via loucura, era alguém que não queria ter “aquela velha opinião formada sobre tudo”. Depois parei de pensar e levantei-me do banquinho que me fora oferecido. Eu estava babando. Disse algumas frases desconexas que envolvia um CD do Ney Matogrosso e as obras do metrô. Fiquei circulando por ali, gesticulando e falando, falando baixinho e olhando para o chão. Bati um livro de História Geral na cabeça, levemente. Babei mais um tanto. Saí porta afora, deixando um quê de perplexidade no semblante das meninas. Depois, ao invés de pegar o carro, saí voando até minha casa. Depois, teletransportei-me até a casa de minha tia Nila, no Cabula. Almocei. Voltei. Peguei o carro. Sintonizei numa rádio qualquer. Voltei no tempo. Escondido, fiquei ouvindo Teeteto. Ofereci-lhe um prestobarba. Ele me chamou de surfista prateado, eu o chamei de sofista. Ele ficou muito zangado. Rs
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário