Essas tais deidades são artistas de uma magnitude incomensurável na música, cujo poder e influência se estendem até os mais inesperados recantos. Geralmente, são artistas cuja discografia é gigantesca, e que não se podem envelopar em determinado período da história, embora tenham importância vital para vários deles. Caras que criaram a música, praticamente. Caras que são tocados de botecos ordinários a festas do Lago Sul.
Raul Rock Seixas pertence a essa categoria. A mesma em que estão David Bowie, Caetano Veloso, Bob Dylan, Elvis Presley, Arto Lindsay e os Beatles. É um grupo muito seleto. A maior parte desses caras, parece, não morrem nunca, e, não morrendo, não param de gravar e revolucionar nunca.
Raulzito, coitado, não aguentou tanto tempo. Mas pra quê mais?
Ouro de Tolo é uma canção que mostra bem esse lado dele, se bem que não seja dificil garimpar esse tipo de exemplo na sua obra. Muito pelo contrário.
Nessa canção, Raul fala sobre sua própria situação em determinada época da vida: batalhou, passou fome, lutou pela sua arte e se tornou um artista do mainstream, reconhecido, vendendo discos de platina, arrotando saúde, com casa, carro, e todas esssas porcarias. Mas Raul nos antecipa: e daí? Ele não acha graça nenhuma. Ele gosta é da luta, da dor. Conseguir não tem graça.
Belo dia, tendo voltado de manhã pra casa e acordando por volta do meio dia, desperto com minha imão falando: "Tí Claudinho mandou você fazer uma crítica sobre a música Ouro de Tolo". Ouvir isso ao despertar é, no mínimo, atordoante. Confesso, abestalhado, que não entendi nada, e o recém despertar não ajudou nem um pouco. Quê? Cuma? Por quê essa música? Tudo bem... gosto muito de Raul, tenho sua discografia completa em mp3, adoro essa música, mas... Por quê ela? Achei que titio estava doido. Tão jovem! Mas agora percebo quão maquiavélico ele foi. Não sei como, mas adivinhou minha alma, tocou na minha ferida. Agora percebo seu propósito e, portanto, aqui vão minhas impressões sobre a letra.
Não farei aqui uma análise da mesma. Cá ente nós, que me perdoem todos os analistas, mas esse lance de análise de música é besteira. E em todas as artes é assim. Ora, pra quê dizer o que o cara quis dizer com uma letra? O cara já não disse tudo... na letra! Daidecorrem duas coisas: se é preciso explicar a letra, ou o autor é muito ruim - e não foi bem sucedido em transmitr a mensagem - , ou o ouvinte é muito burro a ponto de não entendê-la. Ponto. Portanto, se você ler uma análise de música, fique atento: o autor da análise está te chamando, taxativamente, de burro.
Mas não se ofenda. Não há nada de errado em ser burro. Eu também sou burro e leio análises de músicas, porque existem pessoas muito mais inteligentes que eu, que entenderam coisas que eu jamais entenderia sozinho, e obrigado por me explicar.
Ainda: música é como piada. Não pode explicar, senão perde a graça, não é não?
Agora, falar sobre as impressões, histórias, desdobramentos, sentimentos... isso é outra coisa.
Ouro de Tolo.
Tio Maquiavélico.
Existe um momento, na vida de toda pessoa que tem alguma ambição artística, em que ela tem que dar uma resposta qualquer à sociedade e às pessoas que a cercam, ou com as quaias tem algum vínculo, inclusive afetivo e econômico.
Raulzito, meu filho, teve que ser um maldito, um artista vagabundo e imprestável, e teve que ser tornar o dito cidadão respeitável que ganha quatro mil por mês para, depois, fazer o que bem quisesse. Conquistar um milhão de coisas.
Ele desdenha de tudo isso. Ele não quer um corcel 73, nem dar pipoca aos macacos, nem andar de tobogã. Eles está dizendo claramente: gente, deixa de ser besta! Isso nao tem graça nenhuma, tem coisa muito melhor nessa vida. E está dizendo: vocês não podem me criticar, eu sou tudo o que voces são e tudo o que vcs queriam ser. E, ao mesmo tempo, está dizendo: deixem de ser bestas, seus artistinhas de merda. Façam como eu! Isso é uma etapa necessária.
Só raul pra pagar sapo pra todo mundo e sentar no trono de seu apartamento, altivo, mas sem se acomodar: com o olho fixo nos discos voadores. O que me lembra de meu tio Cláudio (pelo visto, maquiavel não encarnou só em papai).
Tio claudinho sempre foi meio ricardístico; A imagem do cara bem sucedido e corporativo, mas a inda assim um artista de qualidade inquestionavel e vivência imbarrável. É tudo o que gente como eu e Sakuro queríamos ser, mas não temos competência pra isso.
Ricardo, tio Cláudio, temos inveja de vocês.
Tio Claudinho me lembra muito a música ouro de tolo. Mas não levianamente. De forma assustadora! Um cara sentado no trono de um apartamente, em uma cobertura na área nobre de salvador, olhando para os discos voadores lá fora, disparando sua lira para todos os pobres mortais cá de baixo.
Ainda tenho flashs de mim e minha irmão Priscilla, comendo com ele no mac donalds, ou no cinema do pátio, ouvindo ele dizer sarcásticamente:
- Titio é o quê, meninos?
ao que respondíamos, eufóricos, em uníssono:
- Burguês!
Nem sabíamos o que queria dizer "burguês". Ele nos botava pra repetir isso. Eu achava que burguês queria dizer bicha, e ficava meio constrangido de chamar titio disso, mas pensava: se ele é que está pedindo, se ele gosta, tudo bem!
E aqui estamos Sakuro e eu, agora, a distribuir currículos em branco.
Senhores, está na hora de escancarar a boca cheia de dentes e esperar a morte chegar.
d.b iv/v/mmxi xv:xix - ouro de tolo
Nota do Editor:
Abaixo estão dois vídeos preparados para acompanhar a postagem, cujo conteúdo será replicado oportunamento. Quem fala o que quer...
Quem fala abaixo é Luiz Dantas, servidor da Auditoria Interna do INSS em Salvador, colega de trabalho, portanto, do Editor do CFL.
Quem fala abaixo é o Editor do CFL.
2 comentários:
Ótimo texto, Devana!
tio Maurício
Kráudinho, Luiz Dantas, Raulzito e os Audt'antes, tudo a ver!!!
Postar um comentário