30 de janeiro de 2009

Ao Mestre, com cuidados!

Durante alguns dias, por força das comemorações do centenário do nascimento de Merleau-Ponty, fizemos, eu e meu mestre, Luciano, o percurso entre a Aliança Francesa, na Vitória, e o bairro do Canela. Para tanto, saíamos da Aliança, atravessávamos o Corredor da Vitória, beirávamos o Campo Grande, filosofávamos um tanto na esquina que dá acesso ao Canela e nos despedíamos harmoniosamente, como é comum nas relações mestre-discípulo. Luciano, como "sói" a toda relação do gênero, procura sempre dar certo lustre, uma espécie de segunda-mão quando, em linguagem rudimentar, tento expor minhas idéias que, conquanto não de todo ruins (rsrs), vão sempre expressas por meu dialeto raquítico. "Talvez você queira dizer ´isso´...". Introduz Luciano, como seu modo todo polido de polir minhas frases mal-ditas. "Exato!", digo eu, surpreso com minha ignorância e embasbacado com a maestria de meu mestre. Pois bem, numa dessas conversas (das quais já começo a sentir saudade), tasquei um "pragmático" no meio de uma frase qualquer. “Luiz...”. Bastou o vocativo (iluminado vocativo) surgir para que eu me desse conta de que a melodia fora destruída com uma nota desafinadíssima, que fez um ruído nada musical lá nos tímpanos do Mestre. Dali até esta parte, fui estudar o pragmatismo. No Sebo da Lapa, e na internet, fui enveredando-me pelas sendas do pragmatismo. Li Peirce, li W. James, li Dewey, li Rorty e assisti todos os vídeos do Filósofo de São Paulo, Paulo Ghiraldelli Jr.. Uma “tourné”, por assim dizer. Hoje, se me encontrar novamente com o Mestre, e se, por acaso, me sentir tentado a usar o bendito conceito, vou segurar minha língua e calar. Pois estou certo de que, apesar das leituras, tão logo eu termine a frase, virá Luciano e: “Luiz, talvez você quisesse dizer...”.

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