7 de março de 2010

Neste pais, lugar melhor não há!

Há algumas canções brasileiras que, em algumas ocasiões, deram o tom da nossa vida em família. Muitas delas, se as ouvimos, nos conduzem ao espírito predominante naquelas circunstâncias. Na minha infância – ali pelos 6, 7 anos – rolava It,s Now or Never, na voz de Elvis. Hoje, qualquer membro da família que a escutar (exceto Fábio e Maurício, que só nasceram muito depois), será remetido a um tempo bom. Tempo em que comíamos vitamina de abacate, que estudávamos no Centro Integrado de Educação Luis Navarro de Brito, que íamos ver painho – técnico de futebol – movendo-se, inquieto e esbravejante, nas laterais do Campo do Nacional e do Fluminense. Tempos depois: “Ó pai, eu queria tanto ouvir o som que vai abrir o encontro triufal”. É que o Irmão Paulo, assim que se convertera ao Evangelho, comprara um gravador, que ele punha no criado-mudo, ao lado de um bando de fitas BASF. Nelas, canções do Grupo Logos, liderado pelo vocalista e letrista Paulo Cézar. E era uma canturia sem fim de Minéia e Márcia. E era uma peregrinação de membros da irmandade em casa. E era Jesus – havia sempre mais de dois reunidos – sempre presente. E, coisa engraçada, rigorosamente estava ali uma flagrante negação da Doutrina da Congregação, que proibia escutássemos outra coisa que não os Hinos de Louvores e Súplicas a Deus. Mas isso pouco importa. E dá-lhe BASF: E quando enfim chegar o dia mal, onde a dor parece até que vai vencer, bem lá no fundo, então, renascerá a paz que o mundo inteiro não entenderá. E dá-lhe BASF: É... Já não mais poderemos ficar juntos e orar, e pedir ao Senhor que nos ponha no peito Mais uma canção. E dá-lhe BASF: Nasce no meu peito a vontade imensa De cantar louvores ao Trino Deus e exaltar o nome do meu Pai eterno que do grande inferno já me resgatou. Mas o tempo passou e, nele, fomos passando por gerações de bandas e letras e canções. Até que chegamos àquele ponto onde nos dispersariamos para sempre(Fábio e Maurício já haviam nascido). Estávamos em Brasília e tomamos conhecimento de uma banda chamada Legião Urbana. Éramos muito rigorosos (perdoai a modéstia). De modo que, para nos impressionar, a música/banda precisava ser, de fato, boa. E aquela banda nos impressionou. Mais que isso: marcou nossas vidas para todo sempre. Era 1987 (é isso, Fábio?). Estávamos à beira do Rio Corrente quando, juntos, ouvimos pela primeira vez Faroeste Caboclo. João de Santo Cristo, o boidadeiro, Pablo, Jeremias e... Maria Lúcia, aquela menina gostosa. A música era imensa. 10 minutos para narrar uma saga. E quem não se lembra de: Ele queria sair para ver o mar e as coisas que ele via na televisão. E ainda: Comprou uma passagem foi direto a Salvador. E ainda: Estou indo pra Brasília, nesse país lugar melhor não há. E ainda: Meu Deus, mas que cidade linda!. E o verso mais tocante: - Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia.

Pois bem. Não vejo paradoxo algum – pelo menos sob a ótica da influência que causaram em nossas vidas – em juntar Paulo Cezar e Renato Russo num capítulo especial da biografia da família. E se foi um irmão Paulo – primogênito – quem inundou a casa de Logos, foi Fabinho – caçula –, e seu eruditismo musical, que contaminou de N músicas nosso quarto no bloco N.

5 comentários:

d.b disse...

o mais legal é ver o "irmão paulo", meu pai, e "claudinho", meu tio, contando a mesmas hitórias em separado, sob óticas diferentes e ainda assim contando a mesma versão.

coisas que só eu tenho.

d.b disse...

e tem ainda aquele trecho:

"E não protejo generais de cinco estrelas que ficam atrás da mesa tananam na mão"

hehe, sempre pulei essa parte. tanana, sempre funciona.

paulinho dagomé disse...

Paulo César teve um grande parceiro,Jayrinho, grande poeta, que falava do amor a Deus sem a caretice dos hinos mais clásicos. E, sim, o paralelo entre eles, Paulo e Jayrinho, e Renato é evidente. É só ir no you tube, baixar e comparar. Pra ouvir no último volume... E estas duas bandas perpassam meu modo de compor tanto quanto Elomar, Mão Branca e Xangay... Eu era feliz e sabia.

Fábio Sena disse...

Pois é! De minha parte, também, as mais boas lembranças do Grupo Logos - q'inda hoje ouço em vinis e MP3. Por outro lado, não sei se já consegui afastar da memória o fundamentalismo onipresente do Irmão Paulo, o mais velho e esbravejador das verdades cristãs, acompanhado pelo canto nostálgico de uma Minéia em apelo que comovia o próprio Satã. Mas confesso que há, sim, Cláudio, parentesco entre Paulo Cézar e Renato Russo, e sei que o Grupo Logos aplacou muitas de minhas dorew existenciais porque abrandou a dor do convívio com os "crentes" oferecendo-me, ao menos, uma musicalidade atraente.

Eliane Assunção disse...

Então amigo, infelizmente não posso compartilhar das doces lembranças desse convívio tão nobre!Mas hoje,pergunto-me se "Neste pais lugar melhor não há",no momento presente, sem fitas Basf, tão cheia de "Idéias do Canário"... Machado de Assis certamente perguntaria para mim:Que coisa é o mundo?e eu responderia, tal como o canário, que o mundo é um espaço infinito e azul, com o sol por cima...que o mundo é tudo(é o melhor lugar que há neste país) e até já fora, apenas, Vitória da Conquista.