2 de maio de 2011

Vá você!!

Para Maurício, que sabe as razões...

Há um poema do João Cabral de Melo Neto (perdoe falar do sagrado em meio a profanos) em que ele diz algo, mas não diz; implicita explicitamente. Vejam:

Tecendo a Manhã

1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

Na produção abaixo (vide agora o que quero dizer com profanar), há algo que lembra isso nesse singelo "vá você"

Familiar, Maurício?!.



vá você

não há o que fazer
você se recusou a me dar atenção
e eu não vou esquecer
quando eu disse que sim você falou que não
eu tentei entender
eu quis lhe explicar mas você se opôs
o que eu posso fazer
cê só pensa em você não pensa em nós dois

vá você
num bota minha mãe
no meio disso ela não tem nada a ver
num xinga minha irmã
ela não faz fofoca ela não é você
corno é o seu pai
pergunta pra sua mãe que você vai saber
viado é seu irmão
não desgruda de joão cê pensa que eu não sei

vá você
pode me ameaçar
pode descabelar eu tô é por aqui
num fala assim de pai
que pai morreu dizendo pra eu largar de ti
cê aprontou demais
eu nunca tive paz derna que eu te achei
naquele pardieiro
chei de gigolô lésbica puta e gay

De: Paulinho Dagomé
Por: Isaac Mendes

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