4 de fevereiro de 2007

Benedictus

Um dos prédios mais antigos da capital baiana abriga, há séculos, o Mosteiro de São Bento. Trata-se de uma construção suntuosa. Visitando-o, temos a sensação de navegar no passado. Essa sensação está presente em nós a cada prédio visitado no Centro Histórico. Diferentemente de Roma, em Salvador os prédios não são ruínas, mas, evidentemente, são bem mais jovens: têm menos de 500 anos. Alguns metros depois do Mosteiro está a Praça Castro Alves e, claro, a estátua do poeta, com sua mão poética estendida – “toda essa mão para fazer um gesto que, de tão frágil, não se modela”. Alguns metros antes, está o prédio da Previdência Social, onde trabalho. E, nas adjacências: o Largo Dois de Julho, o Largo da Palma, A Praça da Liberdade, a Rua da Montanha, o Pelourinho, o Relógio de São Pedro, a Bahia de Todos os Santos, a Barroquinha, O Terminal da Lapa, a Rua Chile, a Avenida Sete de Setembro, e a Carlos Gomes, o Campo Grande. Quando voltei para Salvador, há alguns meses, resolvi que iria viver a cidade e viver na cidade. Desfrutando de suas praias, sua gente, sua história. Sinto-me responsável – sim, é pretensioso – por ser o elo entre o passado e o futuro da cidade. Vou agendar um encontro entre Tomé de Sousa e o próximo alienígena que me visitar. Levando um note book para o Mosteiro, digito nele os cantos beneditinos. Vou propor aos monges que usem tecido feito a partir de estudo da nanotecnologia. De posse das duas pontas do fio do tempo (passado e futuro), vou amarrar suas extremidades, envolvê-lo em minha cintura, e prender minha calça, que está caindo desde que comecei a emagrecer. Para tanto, começo amanhã o curso de filosofia do Mosteiro de São Bento. A aula magna será hoje, domingo, às 16 horas. Durante três anos, estarei estudando dentro do ambiente mais pacífico e mais monástico da cidade. Durante três anos, terei aulas com monges, ouvindo o farfalhar de seus hábitos nos corredores do mosteiro. Será engraçado, já que nenhum deles sabe que sou contemporâneo de São Francisco de Assis, que fui o revisor do texto final do relatório do Concílio de Trento, que fui eu quem aconselhou Gutemberg a usar a fonte times new roman na primeira impressão da bíblia, que Lutero era meu primo, que Calvino foi massacrado por mim em cinco partidas de xadrez. Será engraçado, já que nenhum dos monges saberá que antes, muito antes de qualquer antes, assisti, sentado numa nuvem branca, o primeiro nascer do sol, que antes, muito antes de qualquer antes, vi u´a mão gigante semeando no negro lençol da escuridão infinita uma infinidade de estrelas. Mas muito mais engraçado será quando souberem que o enredo d´O Nome da Rosa não passa de plágio que o Humberto Eco fez de um texto que eu havia escrito, de uma sentada só, em 08 de maio de 1934. Benedictus.

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