21 de fevereiro de 2007

Respirando Ameaças

Para Allan (sucursal Bolívia)

Quando Saulo de Tarso ia pelo caminho de Damasco, “um resplendor de luz do céu o fez cegar.” E uma voz, vinda do céu, indagou: “Saulo, Saulo, porque me persegues? Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões”. Era Jesus. Daí em diante, como todos sabem, duas mudanças decisivas aconteceram. Uma, Saulo tornou-se defensor dos seguidores do Nazareno, transformando-se no principal nome do pensamento cristão. Outra, mudou de nome. Deixou de ser chamado de Saulo para ser Paulo, que quer dizer: pequeno, humilde. O fato está descrito com mais detalhes lá em Atos dos Apóstolos, 9. Fatos miraculosos como este permeiam a Bíblia. Alguns mais ou menos conhecidos. A conversão de Paulo (ou Saulo) é talvez o mais conhecido, ou pelo menos o mais importante, se considerarmos que, na ausência de Paulo, o florescimento do Cristianismo seria, por assim dizer, pífio. Um detalhe interessante, que remete a uma licença poética sacra, está logo no primeiro versículo: “E Saulo, respirando ainda ameaças, e mortes contra os discípulos do Senhor...”. “Respirando ameaças...”. Sempre achei rica tal imagem. Outra construção muito erudita: “Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões!”. Claro que essas construções estão presentes na tradução do João Ferreira de Almeida. Outras traduções trarão outras formas de expressão. Pois em verdade, em verdade vos digo: eu e Paulo temos três coisas em comum. Também fiquei cego por conta de um resplendor de luz, também mudei de nome, também mudei o rumo de minha vida. Há, é evidente, algumas diferenças entre nossas histórias, mas que ambos fomos abatidos por algo miraculoso, isso fomos. Eis o fato. Eu, Cláudio, estava no Caminho do Cedros – restaurante árabe de Cuiabá – quando, ao meu lado, no banco de passageiro, uma luz resplandecente com forma humana disse-me: “Encoste o carro”. Não, não era nenhum guarda de trânsito fantasmagórico. Encostei o carro. Eram exatamente 23:27 horas. Eu estava trêmulo, e não conseguia fugir, embora pudesse. A luz, por um passe de mágica, abriu o teto do carro e, por ele, me transportou para fora do veículo, colocando-me sobre um cavalo alado alvo como os lençóis do Hotel Tropical (Juazeiro-BA). Montando no cavalo, eis que sobrevoei toda a cidade de Cuiabá, afastando-me gradativamente da terra. Agarrei-me às crinas do Cavalo, cujo nome era Alfredo, e continuei afastando-me da terra que, em alguns minutos, tinha as dimensões de uma bola de futebol. Alfredo não tinha pressa. Suas asas batiam vagarosa, suave e levemente. Mas, não sei como, íamos numa velocidade estonteante. Em segundos, astros de todas as espécies e luminosidades iam ficando para trás. Formações celestiais eram atravessadas em milésimos de segundo. Até que chegamos num ponto do universo onde um astro gigantesco ocupava toda uma região. Sei que era colossal, mas não há medida com que possa explicar seu tamanho. Sei dizer que todos os astros gigantes pelos quais passamos eram poeira cósmica próximos a este colosso. Assombro. Medo. Alfredo parara e planava, como que para permitir-me contemplar o colosso. Foi quando olhei para trás e vi meus livros no banco traseiro do carro. Voltando-me, estava novamente no meu carro. Olhei para o relógio: 23:28. A viagem durara menos de 60 segundos. Desaparecera Alfredo. Voltei à terra. Se é que dela saí. Não fui para o Cedros. Embora minha fome pedisse uma esfirra de frango. Estava ainda sob o efeito da impressionante, inesquecível, inacreditável viagem. Na transversal, Avenida Miguel Sutil, há um supermercado 24 horas. Entrei e fui à cata de um tablete de chocolate meio amargo da Nestlé. Voltei para casa. Duas coisas aconteceram comigo após esse ocorrido. Uma, mudei de nome. Passei a chamar-me Krháudyo. A outra, só a história poderá revelar.

18 comentários:

Silvinha disse...

Que cheiro de romance do mais piegas, hein...

Nelson disse...

Sim... O cavalo chamava Alfredo... Um bom nome para cavalo! Afredo...

Anônimo disse...

Eu achei super enigmático esse nome... Poderia ser Alfred... O que eu acho interessante nesse blog é a escolha dos títulos. Simplemente não tem nada a ver com nada... depois que a gente lê, até que tá citando, mas poderia ser mais ligado ao conteúdo. Esse "Respirando Ameaças" poderia ser "Pégasus" (da mitologia). Peço a você, Luiz Cláudio, que volte a usar as cores pra ressaltar os pontos mais importantes...

Outra coisa, que que tem a ver esse Hotel Tropical, pelo amor de Deus?

Anônimo disse...

Luiz, eu já fui nesse Hotel em Juazeiro. É um que fica perto do INSS, né? Não me lembro dos lençóis, nem da cor... Mas o café da manhã é horrível!!

Abraços,
João Alberto

Anônimo disse...

Discordo de você quando diz que o Cristianismo não seria o mesmo sem Paulo. Não penso assim, mas seria difícil a qualquer um de nós julgar se sim ou se não. Leio seu blog desde o primeiro (Cacha Pregos), e esse último pra mim não tem a qualidade dos demais. Ou eu não fui capaz de entender. É meio surrealista. Sei lá!. Devo ser muito burra.

Senti falta de seus textos nesses últimos dias. Tava farreando no carnaval?

Paula está te mandando abraços e quer saber quando você vai vir por estas bandas...

Beijos, Beth

Anônimo disse...

Discordo de você quando diz que o Cristianismo não seria o mesmo sem Paulo. Não penso assim, mas seria difícil a qualquer um de nós julgar se sim ou se não. Leio seu blog desde o primeiro (Cacha Pregos), e esse último pra mim não tem a qualidade dos demais. Ou eu não fui capaz de entender. É meio surrealista. Sei lá!. Devo ser muito burra.

Senti falta de seus textos nesses últimos dias. Tava farreando no carnaval?

Paula está te mandando abraços e quer saber quando você vai vir por estas bandas...

Beijos, Beth

Anônimo disse...

Luiz Cláudio,
Considero "Respirando Ameaças", diferentemente do juízo de Beth, um de seus melhores contos, digno de um episódio do antológico "Twilight Zone". Pura teleologia de notável elaboração narrativa: a matéria ou o ser se desprendem de sua limitação físico-corpórea, liberando o espírito (intangível e abstrato, em nossa concepção racional-positivista) para seu verdadeiro destino. De outro modo, transcendendo as imanências, a vertigem desse breve momento hiperbólico, só explicável pela teoria da relatividade einsteiniana, configura uma representação onírica que causaria perplexidade mesmo aos freudianos e junguianos...
Creio que o intento de todo artista é inscrever sua obra como um marco universal da humanidade. Ao expressar, com tanto lirismo, o maior desejo existencial do ser humano (ascender ao infinito e se fundir ao eterno), sua aparentemente despretensiosa história concorre, indubitavelmente, sem lisonja afetada, à condição de clássico (atemporal e imortal).
Simplesmente arrebatador e entusiástico!
Parabéns!

Evoé!

Daniel
Brasília-DF

Krháudynho disse...

Pessoal, pretendia responder pela manhã às manifestações dos leitores, mas meu ego, depois da postagem do Daniel, ainda está suspenso nos Anéis de Saturno. Assim que ele voltar do cosmo, respondo.

Daniel, você está me deixando ruborizado... De qualquer sorte, obrigado pela crítica.

Anônimo disse...

Esse Daniel que te elogia tanto tem a mesma narrativa que você! Esse seu blog é uma fraude! Acho que inves de ficar pensando em cosmos e anéis de saturno ou o seja, você deveria se concentrar na sua ínfima figura, no ser que rasteja, que clama pelo olhar de desprezo, que fica aí esse negócio de evoé!

Krháudynho disse...

Anônimo, se eu pudesse criar um pseudônimo da qualidade do Daniel, meu blog seria muito mais interessante.

Anônimo, o mal que lhe fiz, foi nesta ou noutra existência?

Anônimo, se foi nesta ou noutra existência, eu lhe peço perdão.

Se no entanto, anônimo, sua ira for gratuita, sugiro que não leia mais o blog.

Anônimo, EVOÉ!

Krháudynho disse...

Silvinha, você já deve ter lido um poema do Fernando Pessoa que fala onde ele comenta que os apaixonados escrevem cartas ridículas (TODOAS AS CARTAS DE AMOR SÃO RIDÍCULAS). Acesse http://www.revista.agulha.nom.br/facam83.html.

Vou confessar pra você, e que ninguém mais nos leia: de fato, é um pouco, só um pouco, piegas. E é piegas por ser ridículo. E é ridículo por que toda declaração de amor o é. No entanto, como dirá um outro poeta: só quem ama é capaz de ouvir e de entender estrelas.

Vou confessar outra coisa, dentro do mesmo tema: não sei precisar quanto tempo durou o beijo, mas que eu fui às estrelas, isso fui.

A bem da verdade, fiquei cerca de 365 dias como cosmonauta.

É ridículo? É. É piegas? Nem tanto, já que pieguice é, em última análise, o apelo excessivo para o sentimental, o que não é bem o caso. POr outro lado, fora do contexto do texto em si, sou, sim, sentimental. Eu e Altemar Dutra, hehe!

Beijos, Sílvia!

Abraços no Nelson e no bebê!

Krháudynho disse...

Nelson,

Vou contar pra você, mas você deve prometer que ficará entre nós: durante algum tempo, só algum tempo, usei o pseudônimo de Alfredo. As razões era, por assim dizer, vitais.

Mas, pelo amor de Deus, não vá divulgar!

Abraços no bebê e na Silvia!

Krháudynho disse...

Anônimo, concordo com você. Os títulos que adoto são muito, muito pouco criativos. E acrescento mais, indo ao seu encontro: os textos trazem contradições do tipo: inicia com um tema e termina com outro.

Na verdade, todos os títulos são colocados meio que pra agradar meu irmão Paulo. Se um dia você for convesar com ele, perceberá que há algo de muito, muito podre no Reino da Dinamarca.

Sim, "Pégasus" seria um bom título, mas provavelmente seria reprovado por Paulinho, logo...

Quanto ao colorido, explico: é que, tão logo terminou o carnaval, eu estava um tanto quanto fora do eixo, logo...

Quanto ao Hotel Tropical, ele será tema de um outro post. Quando for publicado, você entenderá a citação.

Abraços, Anônimo.

Krháudynho disse...

Querido João Alberto, quanto tempo,hein? Olha, duas coisas no café da manhã me desagradaram: o avental da senhora que fica na cozinha (deve ser cozinheira) e a comunidade moscas que lá transita!

Abraços, João!!

Krháudynho disse...

Oi, Beth!!
Sim, é surrealista. Sou uma espécie de Salvador "Daqui" (boa essa, não?!).

POis é, não publiquei nada em 10 dias, mas vou compensar o atraso. Tenho razões para isso.

Diga a Paula que só vou a Brasília quanto for intimação. Estou gostando tanto do meu curso (e da cidade) que não quero mais viajar. Adeus às Malas (essa também foi boa, não?).

Dê um abraço na Edna!!

By, Beth!

Krháudynho disse...

Daniel, meu pseudônimo favorito, renovo meus agradecimentos a mim mesmo! Brincadeira, Daniel. Não consegui achar você no skype. Ache-me, portanto: Luiz Cláudio Sena Santos.

Evoé!

Anônimo disse...

teste

Anônimo disse...

Claudinho manda esse anonimo chato tomar no copo!!!! rsrsrs Parabens pelos textos.. Nunca te disse isso nesses quase 15 anos de amizade mais sempre te admirei pela sua inteligencia e criatividade. Cristiano.