27 de janeiro de 2009

Coisa Indefinida

Meu exemplar das Obras Poéticas do Fernando Pessoa está em frangalhos. É que alguém o pegou de empréstimo e me fez dois favores: a) riscou, marcou, comentou os poemas; b) estragou com profissionalismo o livro. Trata-se daquela histórica edição em papel bíblia da Aguilar, sabem? Pois é. Alguém vai me dizer: "Rapaz, você devia era ficar feliz de alguém compatilhar seu gosto poético!". Tá, eu fico feliz, mas isso não significa que eu vou achar maravilhoso que alguém, porque professa minha crença, destrua minha bíblia. Sendo a bíblia, mais um motivo para folhear com toda a veneração possível.

Pois bem, dos frangalhos do Livro (nobremente resgatado pelo meu irmão Fábio), extraio, para vosso deleito, o soneto abaixo.

Em Busca da Beleza

Soam vãos, dolorido epicurista,
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.

Da Perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós dessa beleza
Um infinito de nós mesmos dista.

Nem à nossa alma definir podemos
A Perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.

O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.

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