17 de janeiro de 2009

Sob o signo de capricórnio

Na próxima terca-feira (20/01), Obama assume a Presidência dos Estados Unidos. Filósofos, articulistas, analistas políticos, Ku-klux-Kan, movimentos negros, todos já fizeram análises as mais profundas e as mais superficiais possíveis. E, claro, tem os céticos. E tem também os estetas, a cujo grupo me agrego. Eu estava em Brasília no dia em que Obama foi declarado oficialmente vencedor das eleições nos Estados Unidos. Ali pelas 3 da manhã - inquieto - ouvi a vinheta do plantão da Rede Globo, que anunciava a novidade e que indicava que, dali há pouco, Obama faria seu discurso. Imediatamente liguei para o celular de meu irmão, que estava desligado. Eu estava só diante do fato histórico. Sentei-me na cama para ouvir o discurso. E vi (Meninos, eu vi) um negro elegante, o olhar altivo, a voz retumbante (sim, retumbante!), falando a uma multidão silenciosa (e lacrimejante). Um negro inteligente, bonito, elegante, lido, instruído estava ali, na minha frente, falando à multidão? Não! Estava falando ao mundo. De quem era a vitória, da própria sociedade. Ora, aquele fato histórico (com a estética que o emoldurava) era o resultado de um processo, de uma construção muda e surda, engendrada no interior dela mesma, sociedade. Mas é evidente que era também a vitória das minorias. Mas isso, vou ser franco, não é, não era o que me comovia naquela madrugada. A única coisa que me comovia era ouvir aquele negro, naquele lugar, naquele momento e naquelas condições. A moldura, entendem? A mim, pouco se me dava qual seria o futuro. A única coisa que me importava era o efeito do fato naquela madrugada em mim. E me lembrei de Cruz e Souza. E me lembrei de mim mesmo quando fiz meu primeiro discurso (guardadas, por Zeus, todas as proporções). E fui me lembrando de outros tantos negros invejáveis. Na próxima terça-feira (20/01), sob o signo de capricórnio, Obama fará novo discurso. Vou me postar reverente em frente à televisão. E vou ouvir.

4 comentários:

d.b disse...

tudo é estético. de uma maneira ou de outra. o preconceito é estético, as vitórias também.

a questão é: esse fenômeno estético, uma vez realizado, dá o primeiro passo para em direwção à um futuro em que essa moldura já não chame mas tanta atenção, pois será acessível à todos...

paulinho dagomé disse...

pouco depois da vitória de Obama eu participei de um festival de música aqui em Brasília, onde moro, e qquando subi aom palco para defender minha canção, cujo título era João Ninguém, eu ofereci a canção a alguem que naquele momento eu chamava de colega e esclareci ao público que a dita canção falava de tudo aquilo que este colega não era. Seu nome era BArack obama.Eles riram e eu gritei no microfone: VIVA BARACK OBAMA!
Quando terminei a canção, empolgado com o resultado da apresentação frente ao público, gritei novamente:> VIVA BARACK OBAMA! Quando descia do palco, o apresentador do evento cochichou ao meu ouvido: "Não espere muito de Obama. Ele só vai cuidar do povo dele, se cuidar." Eu respondi rapidamente: "Ainda valerá pelo simbolismo". Por sorte ou por competencia, não sei, consegui angariar o 3º lugar do festival e, ao subir para receber o premio minhas únicas palavras foram: "pelo simbolismo que carrega:VIVA BARACK OBAMA!!" O apresentador desalentado meneava a cabeça quando eu desci do palco...

d.b disse...

eu lembro bem da cara de decepção do apresesntador... que diga-se de passagem é um sósia do Chico Buarque... foi bem hilário.

Silvinha disse...

Querido Claudio
Dias que fico sem passar por aqui e me pego com esse tanto de posts aos quais não tenho tempo pra ler. E agora Jose????
Pra que tanta pressa??? Pra quem passou meses sem dar notícias, postar todos os dias é um exagero. Preciso de tempo para me atualizar. Me espere antes de postar novamente.
Bjs saudosos