21 de dezembro de 2006

Chocolate Meio Amargo

Faz quase um ano que me tornei usuário inveterado do Chocolate Meio Amargo da Nestlé. Nenhum processo de desintoxicação, nem mesmo os argumentos da minha consciência foram capazes de me libertar desse vício. Não desejo isso nem pro Agnaldo Timóteo. Vocês podem imaginar o que é não poder ir num supermercado?. Se eu for, uma força descomunal me conduz para a gôndola de chocolates, e uma força ainda maior conduz minha mão até a barra de chocolate Meio Amargo da Nestlé, e uma outra força invencivelmente mais poderosa faz com que, ali mesmo, eu rompa o lacre e coma... como se fosse um beduíno que, após longa caminhada no Saara, vislumbrasse, ali perto, o oásis. Não desejo isso nem pro Waldir Pires. Estou falando de algo que humilha. Eu, que sempre tive pleno domínio de meus atos; eu, que sempre fui senhor de minha vontade; eu, que nunca me submeti às coisas inanimadas; eu, cuja única coisa que ainda poderia ter alguma influência sobre minha resoluta decisão era uma panela de abóbora cozida com carne de sol; eu, Luiz Cláudio, ajoelhado e humilhado diante de uma barra de Chocolate Meio Amargo... Não desejo isso nem pra alma de Pinochet. E como se não bastasse isso, tive que ouvir de minha irmã Márcia um sermão de duas horas, onde ela, além de me acusar de fraco, fez um levantamento das causas de meu vício: “Claudinho, você não se enxerga?! Essa sua dependência tem uma única razão: não ter se casado! Veja você se algum de nós – eu, Maurício, Minéia, Petrônio, Fábio, Paulinho e Marlúcia – submetemo-nos a tão pernicioso vício! Não, meu caro, Não! Você, Claudinho, que vive sozinho todos esses anos, viajando feito... bem... feito uma pessoa que viaja muito, você se tornou uma pessoa amarga, daí sua afeição pelo Meio Amargo!! Claudinho, vê se te enxerga! Enquanto você não se casar, esse mau o acompanhará por toda eternidade” Mas, Márcia... “Não tem mais nem menos mais! Acorde, Claudinho, acorde!”. Eu não desejaria isso – o discurso de Márcia – nem pra Marta – aquela da novela. O certo é que ontem, ali pelas tantas da noite – perambulando (cuidando do bem-estar da humanidade) passo em frente ao Bom Preço (24 horas). Não havia nenhum motivo para eu ir lá, confesso. Mas um formigamento teve início na altura do cotovelo esquerdo e se alastrou por todos os poros do meu corpo... Sabia que era o vício... macho que nem uma preá, não parei o carro, e segui em frente... mas o formigamento não me deixaria dormir... cedi. Voltei e comprei a bendita barra: R$ 3,99 (promoção). No carro mesmo metade da barra se foi. Chegando em casa, abro a porta, tiro a roupa, tomo banho, jogo a metade faltante próximo ao travesseiro inexistente... olho para o brilho luminoso do invólucro e digo a mim mesmo: “Não caso, Márcia, nem a pau!”.

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