21 de dezembro de 2006

Eu, CB e Luciano: Diretrizes Estratégicas para Não Passar Vergonha

Minha mãe sempre diz que eu não perco a cabeça porque ela está “pregada no pescoço”. Ela se refere ao fato de eu não ter muita coordenação das coisas à minha volta e ao fato de esquecer muito facilmente de qualquer coisa, qualquer hora, em qualquer lugar. Eu atribuo isso a uma qualidade, não a um defeito. É sinal de que minha mente se fixa mais nas coisas filosoficamente mais importantes, o que me dá uma certa deficiência para tratar das coisas do mundo dos terráqueos. Tem ou não tem fundamento? É bem verdade que, vez por outra, passo alguns apertos por força desses vacilos, o que me põe em situações nada interessantes. Antes de ontem, por exemplo, passei por uma dessas situações. Logo, logo vocês vão entender o título acima. Bem, ali pelas 13:30h, resolvi almoçar. É que tem dia que não almoço (ora porque esqueço, ora porque me envolvo demais com o trabalho, etc). O certo é que fechei a máquina e fui lá pro Largo Dois de Julho, onde tem um “selvi-selvi”. Um prato, um pouco de arroz, uma saladinha (tô emagrecendo, vereis!), um franguinho, duas pitadas de feijão e três ou quatro grãos de arroz. Pronto. Peso o prato. Recebo uma ficha. Sento-me com aquele meu ar peculiar de “saibam todos que eu estou ciente de tudo que pensais, mortais!”. Concluo o almoço, peço um suco de laranja. Acrescento ao pedido do suco a recomendação de que não ponha açúcar (tô emagrecendo, vereis!). Vem o suco, bebo. E, diante do inevitável, dirijo-me ao caixa. Retiro a carteiro e percebo que não há um centavo na mesma. Em momentos como este, quando uma mísera gota de suor percorre das têmporas ao pescoço, é que a gente percebe que a vida não tem sentido algum. E menos sentido ela tem quando uma seqüência de gotas resolve seguir o exemplo da primeira, dando-me a incômoda sensação de que uma grande quantidade delas adere ao movimento gotífero, e um grande arrastão de gotas segue rumo ao infinito (o infinito fica nas imediações do cinto). A moça do caixa está me olhando e olhando também para umas três pessoas que estão atrás de mim (pessoas que, oh vida!, não têm uma única gota de suor manifesta, o que é razoável já que estamos num ambiente refrigerado). Ali, diante de mais uma das situações da minha vida que me fazem ver que a vida não é só filosofia, uma luz gigante de colocou sobre minha alma e eu me lembrei que, num dos infinitos compartimentos de minha nova carteira (lembrem-me de vos contar a história desta carteira futuramente) havia, devidamente dobrado, 20 reais. Foi com um misto de vitória, satisfação e alívio que paguei a conta de 6,75 reais. De posse do troco (e da dignidade), parti rumo ao trabalho, recordando-me... Numa dessas manhãs em Cuiabá, na sede da empresa em que eu trabalhava, estávamos reunidos eu (o "faz tudo" no entender do Presidente da empresa), CB (Presidente da empresa, cujo nome por extenso é Cláudio Brüehmüeller) e Luciano (motorista da empresa). CB, doutrinário e sapiente, diz-nos: “Rapazes, aconselho-vos: tenham sempre uma nota de 50 reais guardada na carteira. Dobrem-na bem direitinha e ponham-na num compartimento qualquer. E esqueçam. Não usem para nada.” Eu – o faz tudo –, e Luciano – o motorista –, ouvimos e nos calamos. Este mês, quando recebi meu salário, resolvi seguir o conselho do CB e dobrei uma nota de 20 reais umas 30 vezes, de tal modo que ela ficou minúscula. Guardei-a na carteira e esqueci, lembrando-me somente por ocasião do almoço no “selvi-selvi”. Não vejo CB há muito tempo, e não sei o que ele me diria se lhe contasse o fato. Talvez dissesse: “Parabéns, Luiz! Fico satisfeito de meus ortodoxos conselhos terem acolhida em seu cérebro. Bom rapaz você!”. Ou não. Ele poderia dizer, ao invés: “Luiz, tua mãe tem razão: Você não perde a cabeça porque tá pregada no pescoço!”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!! Passarei pro CB!!

Anônimo disse...

Rsrsrrs, ilário meu rei!
Axu q desde jah vou seguir esse conselho tbm!
Bjos

Anônimo disse...

Ou tu só não esquece a cabeça porque é pregada!!!
Dona Jovita tem razão!