20 de dezembro de 2006

“Dotô...”

Paínho nunca foi com a cara do Agnaldo Timóteo. Nunca. E essa aversão tinha motivo. Justo motivo. Maínha, se soubesse que o Agnaldo iria cantar em algum programa de TV, deixava qualquer atividade de natureza operacional (retaguarda dos processos culinários) para assistir. Ali, sentada, embevecida, acompanhava o velho Tima, cantando com ele as velhas canções: “Se, algum dia, à minha terra eu voltar...”, ou “Mamãe, estou tão feliz porque voltei pra você”, ou ainda “A luz do cabaré já se apagou em mim”, ou ainda “Mas eu falo bem baixinho, e não conto pra ninguém...”. Paínho, enciumado, amuava num canto ou ia para outro cômodo da casa. Sim, paínho tinha ciúme do negão. Faça-se justiça: aquele vozerão, o porte de galã, um bando de pulseiras de prata, camisas quadriculadas doutrora, cabelo black power, e calça boca de sino e o sotaque carioca – era o kit básico de encantamento nos anos 60. Pois é. É evidente que maínha, mulher dada à música – herança de meus antepassados afro-descendentes – estava envolvida pelas belas melodias (luxuosamente acompanhadas de belíssimas letras) que – por acaso – eram cantadas pela figura dotada do kit supramencionado. Pois é. Pra paínho não tinha essa de gostar da arte do bendito. Paínho tinha, sim, ciúme do Agnaldo Timóteo, e pronto. Talvez, se paínha soubesse do que eu sei, ele poderia chegar para maínha – ironicamente – e dizer: “Jovita, tá vendo essa pose de machão? Depois eu te conto a biografia do rapaz!”. E se afastaria com um indisfarçável sorriso de satisfação. Pois é. Fosse hoje, e ele poderia usar o bordão do Severino Quebra-galho: “Dotô... “

Um comentário:

Nelson disse...

... isso é uma BICHONA!!!